25 de agosto de 2016

O lúdico como plataforma para outros mundos possíveis

Podemos tornar nossa passagem pelo mundo uma experiência proveitosa.


Afirmar isso diante das notícias calamitosas sobre pobreza, desigualdades sociais, preconceitos, guerras pode soar como alienação. Mas não acreditamos na postura daqueles que justificam sua inércia diante da inapelabilidade dos fatos; nem na dos hedonistas, que se isolam em suas bolhas de prazer, ignorando as dores reais do mundo; tampouco na perspectiva dos que abdicam da alegria em nome da infelicidade que acreditam ser a regra da vida de todos. Em uma busca constante de equilíbrio, cada indivíduo pode trabalhar como um agente compensatório. Pois havendo tanta dor no mundo, não será nossa missão contribuir para o bem-estar desde o particular até o social?

Essa sempre foi parte das buscas humanas em seu esforço de compreensão da existência – equilibrar as pulsões de vida e morte, as angústias necessárias ao crescimento e o gozo de estar vivo para ver o sol nascer. Nas últimas décadas, essa busca ganhou feições específicas, que se apresentam como o renascimento da espiritualidade, com cada vez mais pessoas interessadas em budismo, taoismo, cabala, yoga, como ferramentas de autoconhecimento e busca de relacionamentos sociais mais construtivos. Além disso, vêm crescendo em importância as atividades econômicas ligadas ao lazer - como turismo, cursos livres, produções cinematográficas, musicais, teatrais – e multiplicam-se e os indivíduos dedicados a alguma atividade artística, de forma amadora ou profissional. O sociólogo Gilles Lipovetsky denomina esta fase da História de capitalismo artista, chamando atenção para a centralidade do prazer estético na vida contemporânea.

A análise de Lipovetsky nos interessa aqui por sua abordagem de amplo espectro. Por um lado, ele é cético ao demonstrar que a simples expansão das atividades lúdicas e artísticas não garante o aumento do bem-estar, uma vez que esteja ligadas à competitividade empresarial e ao consumo de massa. Isto é, não faz ninguém mais feliz absorver acriticamente as projeções estéticas de um mercado saturado, reproduzir modas de consumo, consumir sem refletir. Por outro lado, resta a esperança de que a fruição estética sensibilize os sujeitos, favoreça seu processo de individuação e, portanto, sua capacidade de lidar com a alteridade. Em outras palavras, é preferível, em termos de relacionamento social, um modo de produção que invista cada vez mais em turismo, cursos, espetáculos, museus e jogos, e não em indústrias de armamentos, espionagem e energia nuclear.

De qualquer maneira, não serve estar feliz o tempo todo – pois assim caímos no tipo de distopia descrito por Aldous Huxley em “Admirável Mundo Novo”. Acreditamos numa dose de alegria que não seja anestésica, mas energética, que garanta a vivacidade para trabalhar por projetos que vão além do hedonismo pessoal. Alegria esta que, na linguagem da neurociência, chama-se dopamina - neurotransmissor associado ao prazer e que tem efeitos comprovados na saúde física e mental. Em doses produzidas por cursos, viagens, leituras, visitas a museus e cinemas, é a dopamina que instiga nossa coragem de estar no mundo, ativa e criticamente. Para dizer de outra forma, precisamos nos dar prazer para transmitir prazer ao mundo.


É com isso em mente que estamos construindo, dentro da Luminara Editorial, os “Mundos Possíveis”, área da empresa dedicada à realização de cursos, palestras e grupos de pesquisa associados aos temas que nos são caros, como viagens, culinária e literatura. Contamos com o apoio de vocês para esta nova fase!