Podemos
tornar nossa passagem pelo mundo uma experiência proveitosa.
Afirmar isso diante das notícias calamitosas sobre pobreza,
desigualdades sociais, preconceitos, guerras pode soar como
alienação. Mas não acreditamos na postura daqueles que justificam
sua inércia diante da inapelabilidade dos fatos; nem na dos
hedonistas, que se isolam em suas bolhas de prazer, ignorando as
dores reais do mundo; tampouco na perspectiva dos que abdicam da
alegria em nome da infelicidade que acreditam ser a regra da vida de
todos. Em uma busca constante de equilíbrio, cada indivíduo pode
trabalhar como um agente compensatório. Pois havendo tanta dor no
mundo, não será nossa missão contribuir para o bem-estar desde o
particular até o social?
Essa sempre foi parte das buscas humanas em seu esforço de
compreensão da existência – equilibrar as pulsões de vida e
morte, as angústias necessárias ao crescimento e o gozo de estar
vivo para ver o sol nascer. Nas últimas décadas, essa busca ganhou
feições específicas, que se apresentam como o renascimento da
espiritualidade, com cada vez mais pessoas interessadas em budismo,
taoismo, cabala, yoga, como ferramentas de autoconhecimento e busca
de relacionamentos sociais mais construtivos. Além disso, vêm
crescendo em importância as atividades econômicas ligadas ao lazer
- como turismo, cursos livres, produções cinematográficas,
musicais, teatrais – e multiplicam-se e os indivíduos dedicados a
alguma atividade artística, de forma amadora ou profissional. O
sociólogo Gilles Lipovetsky denomina esta fase da História de
capitalismo artista, chamando atenção para a centralidade do
prazer estético na vida contemporânea.
A análise de Lipovetsky nos interessa aqui por sua abordagem de
amplo espectro. Por um lado, ele é cético ao demonstrar que a
simples expansão das atividades lúdicas e artísticas não garante
o aumento do bem-estar, uma vez que esteja ligadas à competitividade
empresarial e ao consumo de massa. Isto é, não faz ninguém mais
feliz absorver acriticamente as projeções estéticas de um mercado
saturado, reproduzir modas de consumo, consumir sem refletir. Por
outro lado, resta a esperança de que a fruição estética
sensibilize os sujeitos, favoreça seu processo de individuação e,
portanto, sua capacidade de lidar com a alteridade. Em outras
palavras, é preferível, em termos de relacionamento social, um modo
de produção que invista cada vez mais em turismo, cursos,
espetáculos, museus e jogos, e não em indústrias de armamentos,
espionagem e energia nuclear.
De qualquer maneira, não serve estar feliz o tempo todo – pois
assim caímos no tipo de distopia descrito por Aldous Huxley em
“Admirável Mundo Novo”. Acreditamos numa dose de alegria que não
seja anestésica, mas energética, que garanta a vivacidade para
trabalhar por projetos que vão além do hedonismo pessoal. Alegria
esta que, na linguagem da neurociência, chama-se dopamina -
neurotransmissor associado ao prazer e que tem efeitos comprovados na
saúde física e mental. Em doses produzidas por cursos, viagens,
leituras, visitas a museus e cinemas, é a dopamina que instiga nossa
coragem de estar no mundo, ativa e criticamente. Para dizer de outra
forma, precisamos nos dar prazer para transmitir prazer ao mundo.
É com isso em mente que estamos construindo, dentro da Luminara
Editorial, os “Mundos Possíveis”, área da empresa dedicada à
realização de cursos, palestras e grupos de pesquisa associados aos
temas que nos são caros, como viagens, culinária e literatura.
Contamos com o apoio de vocês para esta nova fase!
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