A elaboração e a realização da Oficina de Narrativas de Viagem foram dois horizontes muito curiosos: o Felipe Rech e eu partimos de olhares diversos sobre o fenômeno da viagem, e esta diversidade enriqueceu o trabalho. O Felipe, jornalista, é criador do Viajolândia.com, aplicativo de vídeos de viagem para o Facebook; tem, deste modo, um vasto campo de visão a respeito da captação de uma viagem pela câmera, das possibilidades deste recurso, e deu uma explicação lúdica e didática aos participantes. Soma-se a isto a especialização realizada em Antropologia, que nos propiciou conhecer o 'Relato Etnográfico'. Ainda, deu contribuições sobre blogs 'viajísticos', muito atuais e de relevante caráter interativo entre o blogueiro e as estruturas associadas ao Turismo. Chamou minha atenção a multiplicidade de ferramentas possíveis para registrar uma viagem, elementos trazidos pelo Felipe, a partir de sua experiência pelo próprio Viajolândia, pela atividade de jornalista e por outras vivências profissionais e de seus próprios itinerários, referidos durante a Oficina.
Eu, psiquiatra e editora da Casa Editorial Luminara, voltei a câmera para o "Eu-Viajante", tanto em termos da vivência de prazer do sujeito que viaja, em termos biológicos e psíquicos, quanto na ferramenta abordada: referi a subjetividade na escrita, através dos diários e relatos de viagem. Caminhando na estrada do 'Eu', propus os exercícios de expressão visual da viagem, de acordo com as lógicas internas de cada um.
Ambos focamos em apresentar perspectivas para além da fotografia, demonstrar de que outras formas é possível 'contar' um percurso. E foi o fato de termos diferentes horizontes que tornou a elaboração, e a própria oficina, situações tão prazerosas para mim: pude conhecer muitas formas de pensar o registro de uma experiência, pude conhecer elementos válidos e de grande potencial de execução, na prática, através das aulas do Felipe.
Tive outro fator entusiasmante na Oficina: ao prepará-la, reli "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, com expressões profundas sobre o 'Eu-Viajante"; reli também "The Songlines", livro sobre o período na Austrália, escrito pelo Jornalista Bruce Chatwin, consumidor voraz das 'cadernetas moleskine'. Assim, pude colocar uma lupa na subjetividade envolvida em uma viagem, em várias instâncias: o estudo de nossa biologia, as leituras, os escritos, os desenhos, os recortes e colagens dos álbuns de trajetos.
Enfim: a Oficina teve um propósito instrutivo e lúdico, e ultrapassou em muito minhas expectativas, em ambos os quesitos. Como em uma viagem, há fatores que controlamos e outros que escapam de nosso alcance: exatamente por isto, nos surpreendemos frente ao inusitado, o que dá boa parte do prazer do 'novo', quando somos viajantes. Ontem, este 'novo' foi proporcionado pelo grupo de participantes, com uma sintonia bárbara entre si, e pelas maravilhas do brunch, elaborado pela Chef que prestigiou o evento com seus quitutes, a Michele Valent.
A combinação de fatores de uma vivência 'estrangeira' é imprevisível: podemos estar em nossa cidade mesmo, em uma Oficina de Narrativas num sábado de sol, para sentirmos a surpresa que há na expansão do olhar, na mudança de perspectivas. O mais importante, em território rotineiro ou desconhecido, eu diria, é a curiosidade, a predisposição às descobertas, o prazer em explorar o inusitado e a abertura ao novo, movimentos que toda andança propicia.
E foi o que senti, ontem, na Oficina de Narrativas de Viagem: fui surpreendida, pois o resultado de uma criação sempre tem vida própria!
Mais sobre a Oficina no meu blog pessoal, "Serendipity in Cucina" http://www.serendipityincucina.blogspot.com
Acompanhe nossa programação para o segundo semestre: nesta semana, novidades!
Betina Mariante Cardoso
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